GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

Escrito por Claudecy de Souza

A taxa de gravidez em mulheres adultas está caindo. Em 1940, a média de filhos por cada
mulher era de 6. Essa média, calculada no ano de 2000 caiu para 2,3 filhos para cada mulher.
Porém, o mesmo não acontece com as adolescentes. Segundo os dados do IBGE, desde
1980 o número de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas aumentou 15%. Só para ter idéia
do que isso significa, são cerca de 700 mil meninas se tornando mães a cada ano no Brasil.
Desse total, 1,3% são partos realizados em garotas de 10 a 14 anos.
Apesar do aborto ser uma prática proibida no Brasil - salvo em alguns casos - mais da metade
das adolescentes grávidas da classe média alta, fazem uso dessa prática, quando não podem
ou não querem essa gestação (de acordo com os dados da ANDI - Agência de Notícias dos
Direitos da Infância - ano 6, nº 277, setembro de 2002).
Isso não quer dizer que as adolescentes pertencentes a uma classe social mais baixa não
praticam o aborto. Praticam sim, e pior, utilizam métodos caseiros que uma "amiga" disse que
dá certo, objetos pontiagudos para atravessarem o canal do útero, remédios sem indicação
médica..., pondo em risco muito maior a sua vida, do que se fosse feito por um profissional
qualificado num local adequado para tal precedimento.
Já não causa tanto espanto sabermos que meninas de 10, 11, 12 anos tenham vida sexual
ativa, assim como aparecem em consultórios portando alguma doença sexualmente
transmissível (DSTs) e ou grávida.
O que levaria então essas adolescentes a engravidar? Nunca foi tão divulgado os meios para
evitar a gravidez como nos dias atuais, e mesmo assim, o número de adolescentes grávidas á
cada vez maior. Existem vários fatores que contribuem com esse quadro:
• Os repetidos casos que aparecem nos consultório de psicólogos e médicos, apontam que
muitas dessas adolescentes possuem um desejo de serem mães, da qual elas não tem
consciencia.
• A falta de um projeto de orientação sexual nas escolas, família, comunidade de bairro,
igrejas.
• A mídia é outro vilão nessa questão, exagerando na erotização do corpo feminino.
• Algumas pessoas que são vistas na passarela, revista, cinema e televisão são para os
adolescentes verdadeiros ídolos, ídolos esses que passam uma imagem de liberação sexual, e
a tendência de um fã é sempre copiar o que seu ídolo faz.
• A falta de informação dos pais de adolescentes é um fator fundamental. Não havendo em
casa alguém que possa informa-los, que sirva de modelo, que tire suas dúvidas e angústias,
como esperar dos adolescentes comportamentos mais adequados? Como querer que eles
aguardem o tempo mais adequado para aproveitar a sexualidade como algo bom, saudável e
necessário para o ser humano?
Devido a questões culturais, vergonha, preconceitos, muitos pais tem dificuldade de falar
sobre sexualidade com o filho. Na maioria das vezes os recados são dados de forma indireta, e
que nem sempre o filho entende. Como por exemplo: "Não vá aprontar"."Olha lá o que vai
fazer". Ou usa histórias envolvendo alguma conhecida, como: "viu o que aconteceu com a
fulana?". Em muitos casos a orientação sexual dos pais para os filhos, se limita a dizer para as
meninas, sobre os cuidados que elas devem tomar com relação à higiene no período
menstrual. E para os meninos, dizem: Cuidado para não pegar nenhuma doença.
Nós vivemos hoje numa sociedade onde alguns valores estão invertidos. Por exemplo, num
grupo de amigas a questão da virgindade perdeu seus valores (se é que servem para alguma
coisa), muito pelo contrário é motivo para gozação das amigas. Por esse motivo, mesmo que
ela não esteja com vontade e preparada, passa a adotar um comportamento de procurar um
parceiro. Desse modo ela não será mais motivo de gozação no seu grupo. Terá histórias das
suas aventuras para contar. Não será mais "careta".
Os adolescentes, além de serem bombardeados pelas transformações fisiológicas e
anatômicas, estão envolvidos também seus sentimentos relacionados a essas mudanças. E
como ela irá se relacionar com tudo isso? Uma questão fundamental envolvida aqui é a
auto-estima e a auto-imagem.
Poder admirar-se, perceber-se como um ser que merece atenção, cuidar-se, assim como se
gostar, são ingredientes fundamentais para um desenvolvimento saudável. Mas para isso é
necessário ter uma família que o apóie, estimule, e incentive suas atitudes positivas, que deixe
fazer, agir sozinho, porém com a segurança de que se precisar de ajuda, terá.
Isso é o ideal. Mas a realidade que se vive é outra. Quantos tiveram ou têm essa chance? A
maioria vive de outra maneira. Maneira essa que resulta numa imagem de si pobre e frágil.
Para compensar a falta de valores internos, o adolescente busca valores externos. Como
nessa busca o objetivo ideal não é alcançado, daí para as drogas e a gravidez é um pequeno
passo.
Muitos adolescentes possuem esse pensamento, que na grande maioria das vezes é
inconsciente: "Por que cuidar de um corpo que intimamente não tem valor?" Para que falar de
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez com meu parceiro se ele pode
ficar chateado e me abandonar? Pra que arriscar perder alguém, que eu gosto e que me dá
pelo menos um pouco de atenção?
Para amenizar um pouco esses conflitos e angústias é necessário que se valorize os aspectos
positivos dele. Qualquer tipo de orientação sexual só dará resultado quando o adolescente
sente-se acolhido, valorizado e compreendido, e depois passe a contar com o apoio necessário
para tomar atitudes e alterar seus comportamentos.
É nessa fase que as pessoas costumam traçar metas e diretrizes para sua vida. Porém como
realiza-las diante de tanta precariedade como a falta de carinho, afeto, compreensão, acesso
aos meios de comunicação, lazer, cultura e esporte. Também não passa pela sua cabeça
exercer uma profissão que lhe exija o nível universitário, ou mesmo fazer uma viagem que vá
adiante de seu Estado. E quando definem o que realmente querem, olha ao seu redor e
deparam com todas essas dificuldades. Então, o que fazer? Diante dessa situação muitos
lançam mão de algo que possam cuidar, dizer que é seu: Um filho.
Assim ela poderá dar a seu filho o afeto que ela não teve, até mesmo sufocar pelo excesso.
Ou quem sabe, não dará, pois não saberá como dar afeto.
Agora com um filho começa uma nova fase. Se já era difícil fazer algo para ela mesma, agora
será mais difícil ainda. Como conseguir um emprego para se manter? Como ter acesso ao
lazer, esporte e cultura? Sem falar nas atividades que ela terá de se privar pela circunstância
do bebê, na qual também é importante para seu desenvolvimento, como sair com as amigas, ir
a festas, dançar... pois agora ela tem outras responsabilidades: Cuidar do bebê.
A adolescência, não é o melhor período da vida para engravidar. Grávida a jovem tem que
lidar com as tarefas de se tornar independentes, já que tem um dependente sob sua
responsabilidade.
Os adolescentes precisam ter condições de descobrir, escolher, traçar seus caminhos. Para
uma grávida tudo isso torna muito mais difícil.

Claudecy de Souza
Psicólogo e Psicoterapeuta sexual
CRP 06/69861

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